quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

O Livro: Crônicas do Urso (16)

Urso ~~ Capítulo 11 ~~ Ligados pela alma

O Urso abriu seus olhos vagarosamente. Viu apenas escuridão o cercando. Algo vinha na sua direção. Fechou os olhos. Abriu novamente com muito esforço. O que vinha na sua direção era uma cápsula. Ele já havia a visto antes. Ela veio, e parou na sua frente, como que pedindo passagem. Ele mexeu devagar sua cabeça para trás, e tudo parecia se mover devagar lá. Ele viu a Terra. Voltou-se para a cápsula e ouviu um bebê chorando. Não conseguia ver direito por causa do vidro, porém aquilo foi tornando forma de um pequeno bebê... um bebê urso... Ele esticou sua mão até o vidro. Havia um botão vermelho. O Urso apertou esse botão. Então um ensurdecedor barulho de vento chegou nos seus ouvidos...
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O Urso acordou num pulo. Automaticamente estava sentado na cama, e percebeu que suava muito. A cabeça latejava, e a princípio ele achou que era o mesmo problema de sempre. Mas, desde que os fantasmas ela tinha sumido. A cabeça doía por outro motivo. Ele colocou uma das mãos na cabeça, e então se deu conta que estava na cama de alguém. E, ainda por cima, estava sendo observado:
- Olá, como você esta se sentindo?
Rogers olhou para o lado. E viu uma humana, baixinha, um pouco gordinha, e que olhava para ele com olhos simpáticos, que sorriam junto com a boca. Ele percebeu que ela tava agachada ao lado da cama, com um pano muito úmido e um balde.
- Isso aqui, - ela explicou - era porque você estava suando muito. E estava com muita febre. Não é de se estranhar, do jeito que eu encontrei você, você podia estar muito pior...
- O que aconteceu comigo?
- Isso é o que lhe pergunto. Eu tava voltando para minha casa, debaixo de um temporal, e vi você estirado na valeta pingando sangue da sua cabeça. Eu ia chamar uma ambulância, mas estava perto da minha casa, - ela bufou - e como aqui as coisas funcionam extremamente devagar, resolvi cuidar de você sozinha. Fiz uns pontos no teu machucado e te botei na cama. Como se sente?
- Um pouco dolorido, mas bem. Eu..eu devo minha vida a você.
- Sua vida? Não, não... Você não ia conseguir pagar. - Ela soltou uma risada - Apenas relaxe, se recupere, e siga seu caminho, caro...
- Meu nome é Rogers, mas pode me chamar de Urso também.
- Ah, sim, Rogers. Meu nome é Buca. - Ela sorriu novamente com os olhos.
O Urso não estava preocupado. Seu lado Killer não havia aparecido, logo essa nova amiga parecia ser uma pessoa boa. Estava deitado, quando seu celular tocou. Não aparecia o número da chamada.
- A-alô? - Disse o Urso.
- Alô, Rogers, aqui é do QG. Ficamos sabendo que sofreu um acidente. Você ganhará alguns dias para se recuperar. Sabemos quando estiver melhor. Aguarde informações.
E então desligaram o telefone. Essas ligações da NASA eram incrivelmente irritantes.
- Quem era? - A Buca apareceu secando um prato.
- Ah, nada não... era trote.
- Hum... - Ela foi caminhando novamente para a cozinha - Acho melhor desligar esse celular por enquanto. Não irá conseguir descansar desse jeito.
Depois de um dia praticamente incapacitado, Rogers conseguia se mover e caminhar normalmente, apesar de não estar cem por cento preparado para seguir viagem. A Buca aceitou que ele ficasse na sua casa alguns dias, desde que eu ele ajudasse nas tarefas domésticas. Mas o Urso fez mais do que isso. Como ele se sentia num estado de débito infinito, ele fazia tudo na casa. A Buca até disse que ela gostaria de ter um irmão daquele jeito. Foi a partir daí que os dois chamavam o outro de mano e mana. 
Uma semana depois, Rogers foi avisado pelo cel que o prazo dele expirara e ele devia retornar imediatamente a sua viagem. As férias acabavam naquele momento.
- Devo partir mana.
- Ahh, de verdade?
- É... Eu tenho que chegar num lugar distante. Trabalho, sabe como é né? - Disse o Urso, dando de ombros.
- Ok. Então, boa viagem mano. Foi muito bom ter você por aqui.
- Foi ótimo conhecer você Buca, eu mandarei notícias.
- E venha me visitar também. - Ela sorriu.
- Venho sim. Até mais.
- Até mais maninho.
O Urso foi embora, satisfeito por ter conhecido alguém de boa índole nesse mundo. E estava de tão bom humor, que quando os fantasmas apareceram, dando uma desculpa que o havia perdido de vista, e bombardeando ele de perguntas, ele nem se estressou. Caminhou até a rodoviária, pensando em como uma longa viagem era desgastante, porém muito mais proveitosa. O Urso estava torcendo para que pudesse encontrar mais pessoas como aquela que seria sua irmã, não de sangue, mas do coração, para a vida inteira.
Mas algo ainda o intrigava, pois ainda não sabia direito qual era o significado daqueles sonhos estranhos que  teve poucas vezes, mas nunca esquecia.
(CONTINUA...)

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